terça-feira, 7 de junho de 2011

“Fazer com que o povo tenha acesso ao audiovisual é principal luta”, diz Pimentel

ENTREVISTA PUBLICADA NA REVISTA DE CINEMA

Recém-empossado, o novo presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, João Baptista Pimentel Neto conversou com a Revista de Cinema sobre os desafios que estão à sua frente, como presidente, nos próximo biênio (2011-2013). Cineclubista histórico, membro do CBC via o Conselho Nacional de Cineclubes (CNC), Pimentel foi eleito numa disputa de chapa única, com a bandeira de continuidade de gestão e compromisso com o audiovisual brasileiro – foi, na última gestão, presidida por Rosermberg Cariry, o Diretor de Articulação e Comunicação. Para ele, a principal luta, herança do cineclubismo, é fazer com que o audiovisual chegue à população.

Quais os desafios a serem superados em sua gestão?
Acredito que sejam os mesmos enfrentados nas gestões anteriores. Buscar encaminhar e concretizar as resoluções do CBC. E para que isso ocorra buscar que as entidades associadas realmente participem do dia a dia do CBC. Que manifestem suas opiniões de forma franca. Que realizem o debate necessário à construção de consensos. Que efetivamente apóiem e se envolvam nas lutas coletivas. Que lembrem que é a soma e não a divisão que confere maior ou menor força ao CBC. Por outro lado, acho que o desafio é dar conta da agenda legislativa, que se relaciona e afeta de modo importante todo o setor cultural e, em especial, o audiovisual. Precisamos ficar atentos e mobilizados. E novamente esta tem que ser uma tarefa coletiva. Não pode e não dá prá ser cumprida apenas por um presidente, uma diretoria e pelos conselhos. Somos uma federação. O CBC está hoje presente em todos os estados e, portanto de certa forma esta agenda legislativa se replica nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Então, como se vê é tarefa coletiva e o CBC pode de certa forma articular e organizar isso. Serei apenas um dos coordenadores disso. Gosto muito das palavras: articulação, parceria, compartilhamento!

De que maneira o fato de ser um cineclubista histórico influenciará sua gestão?
A eleição de um cineclubista para presidir o CBC é realmente um fato histórico. Como é histórico o fato de as entidades que participam, apoiaram e votaram nesta chapa entenderem que o cineclubismo é importante neste momento do cinema brasileiro. Afinal, somos nós cineclubistas que temos buscado levar a produção audiovisual brasileira para os 92% de brasileiros que não freqüentam os cinemas de shoppings centers e que portanto não tem acesso a produção nacional. Por isso afirmo que a gestão será coletiva. Foi isso o que aprendi no movimento cineclubista. Como também foi na militância cineclubista que aprendi a gostar e a dar a devida importância ao cinema e ao audiovisual brasileiro. E ao público brasileiro. E daí, como cineclubista, apenas continuo dizendo que filmes são feitos para serem vistos e que precisamos fazer com que o povo brasileiro tenha acesso ao audiovisual brasileiro. E que essa é a principal luta. Quanto maior o número de brasileiros com acesso ao audiovisual brasileiro, mais forte ficará o nosso audiovisual. Isso me parece que hoje é consenso. Os problemas estão na infra-estrutura, na distribuição e na exibição. E não podemos deixar de ficar atentos aos problemas que ainda resistem no setor da produção, principalmente de falta de recursos, da infernal burocracia, enfim, das mazelas que nos afligem a todos. Problemas que são de conhecimento de todo o setor e que tem que ser resolvidos. É o que penso como cineclubista e o que estou propondo as entidades associadas. O norte será dado pelas entidades. “Pelos consensos que conseguirem construir.”

Você acredita na mudança de paradigmas ao votarem num cineclubista para presidente de uma das mais importantes entidades audiovisuais do país?
Acho que falar em mudança de paradigmas é muito forte. Mas acredito na tomada de consciência das entidades no sentido de união e reconhecimento de que o Brasil é um país imenso e diverso. E que o CBC tem que dar conta disso. Não é mero acaso que a nova diretoria conte com a participação de várias entidades representativas e de companheiros espalhados por todo o Brasil. Acredito esta ser a maior prova de que o país está se conectando de norte a sul. O CBC foi adentrando o Brasil de forma gradativa. Desde a sua retomada, ele teve, na Presidência, o “carioca” Gustavo Dahl, a “paulista” Assumpção Hernandez, com Geraldo Moraes contemplou os "gaúchos”, “candangos”, o centro oeste. Com Paulo Boccato, tivemos um animador na presidência. Com Paulo Ruffino, um homem de TV. Com Jorge Moreno, sentimos os ares das alterosas e lembro que Rosemberg Cariry foi o primeiro presidente do CBC vindo do nordeste. E isso à época também foi um fato histórico. E ele fez uma das melhores gestões do CBC. Generosa. Pacificadora. Democrática. Franca e aberta. A favor do coletivo e do audiovisual brasileiro. Tenho orgulho de ter participado disso. Quero dar continuidade a isso. Tivemos portanto presidentes das mais diversas origens e perfis. E cada um ofereceu sua contribuição à história do CBC. Espero estar à altura e oferecer também a minha contribuição.

Em que medida, haverá uma continuidade das gestões anteriores, em especial a última?
Bem, o nome da Chapa foi Continuidade e Compromisso com o Audiovisual Brasileiro. E praticamente todos os membros da Diretoria e dos Conselhos da gestão anterior continuam participando. Portanto, será uma gestão de continuidade.

O que se pode aprender com o 8º CBC e o que será levado em conta na nova gestão?
Reafirmo que a nova gestão do CBC terá por norte dois documentos: as resoluções do 8º CBC e a Carta dos Realizadores Brasileiros. São as diretrizes das ações que devemos empreender. Manual de vôo. Lembrando sempre a todos que uma andorinha só não faz verão. E, portanto, só celebraremos conquistas se nos empenharmos coletivamente na luta. O resultado do trabalho dependerá do que cada uma das entidades associadas ajudar a construir.

Quais as principais reivindicações?
Todas. Pelo menos aquelas que estão nas Resoluções do 8º CBC e na Carta dos Realizadores Brasileiros. Todas elas são importantes e frutos de consensos. Defendemos todas. Sabemos que o setor é complexo e que cada atividade necessita de atenção e soluções especiais para cada um dos problemas. E valorizaremos isso dando igual atenção e nos colocando a disposição de todas. E também sabemos que de certa forma todas estão contempladas pela agenda legislativa que se coloca pela frente. Que precisamos ficar atentos e mobilizados aos interesses da cultura e do audiovisual brasileiro. PLC 116, Procultura, Vale Cultura, PEC 150. Direito Autoral. Lei de Diretrizes Orçamentárias. A lista é longa e posso ter esquecido algumas. Vamos também fortalecer e apoiar a idéia da implantação dos Fundos Setoriais Regionais utilizando recursos dos Fundos Constitucionais. Uma idéia lançada pelo Rosemberg e que a cada dia ganha força. Mas para enfrentar estes desafios precisamos de todos.

Que postura manterá frente à gestão da ministra da Cultura Ana de Hollanda?
Estou certo que a nova Diretoria do CBC manterá uma postura republicana e respeitosa em relação ao Ministro(a) da Cultura, seja quem for. A relação não pode se basear em nomes ou se gostamos mais ou menos do estilo de quem está Ministro. A relação e o diálogo deve se pautar sobre os temas de interesse do audiovisual e da cultura. Não nos envolveremos em manifestos nem pró, nem contra. Não cabe esse papel ao CBC, até porque sobre esse tema não temos consenso interno. Por outro lado, a presença da Secretária do Audiovisual, Ana Paula Santana, e dos diretores da ANCINE, Mario Diamante e Glauber Piva, na Assembléia do CBC, em Atibaia, demonstram a vontade da atual gestão do MinC em construir o diálogo com o CBC e com todas as entidades associadas.

Como sente que será o diálogo com as diversas frentes do audiovisual, como a SAv e a Ancine?
O diálogo está estabelecido. Não só com o CBC, mas também com as entidades associadas. Existem muitos temas específicos que devem ser dialogados entre a SAv e a ANCINE, diretamente com as entidades associadas, apoiadas pelo CBC. O CBC não pode exercer este papel. Tem que cuidar dos interesses maiores. De todos. Tem que lutar pela ampliação dos recursos e não de como eles serão depois divididos. É assim que entendo o papel do CBC. E acho que sobre estes temas maiores, do interesse de todos – inclusive dos gestores governamentais – que o CBC deve concentrar seus esforços contando com um efetivo apoio e participação das entidades associadas. A nova diretoria do CBC quer somar! Quer ir à busca de novas conquistas e de preservar todas aquelas alcançadas nas gestões anteriores.

Por Gabriel Carneiro

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