Joseph Losey, cineasta estadunidense, disse certa vez que todos os filmes deveriam ser vistos pelo menos duas vezes, pois só a partir de uma segunda visão o espectador começa mesmo a sentir as imagens. Dizia ele que “a vida é curta para tantos filmes, e que só nos resta escolher os poucos filmes que poderemos ver e rever”.
E justamente porque ver e rever é preciso, é que o projeto Cinema Falado do Museu Victor Meirelles programou para esta quinta-feira, dia 24 de junho, o filme Sonata de Outono, do diretor sueco Ingmar Bergman.
A mediadora convidada é a professora Clelia Mello, doutora em Ciências da Comunicação, pela Universidade de São Paulo e pós-doutora pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Clelia atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina e possui experiência na área de Artes, atuando principalmente nos temas cinema, Peter Greenaway, encenação, interdisciplinaridade, hipermídia, som-imagem, molduras culturais e experimentação metodológica.
Apesar de ser um dos filmes menos simbolistas do mestre sueco, ainda assim traz uma carga emocional bastante pesada, que não poupa o espectador de testemunhar o estrago que uma relação mal resolvida entre mãe e filha pode proporcionar.
Após a morte de seu companheiro, uma famosa pianista viaja até a casa de sua filha, no interior. Lá, uma complexa teia de acontecimentos vai gerando pequenos conflitos, que culminam em uma delicada e explosiva reflexão sobre os valores familiares. Nos papéis de mãe e filha estão, respectivamente, Ingrid Bergman, em seu primeiro trabalho com o diretor de mesmo sobrenome, e Liv Ullmann, atriz preferida do cineasta. Com duas atrizes espetaculares o resultado só podia ser mesmo duas atuações impressionantes.
Em Sonata de Outono o capricho do diretor com roteiro, fotografia, direção de arte, montagem e tudo o mais está lá, intocável: afinal é tudo Bergman. Porém, o que impressiona mesmo na produção é a simplicidade com a qual o diretor transforma um drama de contornos exagerados em um verdadeiro estudo reflexivo. Um roteiro perfeito, sem exageros, sem furos, sem clichês.
Uma cena reforça a ideia da necessidade e o prazer de se ver um filme pela segunda vez. É quando acontecem as duas interpretações do Prelúdio nº 2 em Dó Menor, de Chopin, uma pela filha e outra pela mãe. O momento é um primor na crítica de José Carlos Avellar sobre Sonata de Outono - de onde foi tirado o título acima -, publicada na semana do lançamento comercial do filme, no Rio de Janeiro, em 20 de dezembro de 1979.
Ele descreve: “Na primeira vez Eva está ao piano, Charlotte escuta. Na segunda vez Charlotte está ao piano, Eva escuta. Na primeira vez a filha toca para atender ao pedido insistente da mãe. Na segunda vez a mãe toca para atender ao pedido insistente da filha. É verdade ainda, entre a cena e a repetição existente um entreato, ligeira pausa, para discutir os sentimentos do compositor e a melhor maneira de interpretá-los.
“Elas podem então ser observadas não só como uma conversa em tomo da maneira correta de interpretar Chopin, pois em verdade as qualidades que Charlotte aponta em Chopin são as características de sua própria personalidade.”
A sessão de Sonata de Outono começa às 18h30min, na Sala Multiuso do Museu Victor Meirelles. A entrada é gratuita.
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Cinema Falado do Museu Victor Meirelles
Sonata de Outono – Noruega – 1978
Direção de Ingmar Bergman
Mediação: Clelia Mello
Dia 24/06/2010, quinta-feira, às 18h30min
Sala Multiuso do Museu Victor Meirelles
Rua Victor Meirelles, 59 – Centro – Florianópolis - SC
Tel.: 48 3222-0692
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