quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

CINÉFILOS E SALGADINHOS

Naipe visita quatro cineclubes em 24h e se empanturra de curtas e bolinhas de queijo
Por Thiago Momm e Jerônimo Rubim*

É quarta-feira, faltam três horas para Avaí x Figueirense e os editores da Naipe se molham com uma chuva no centro de Florianópolis. Querem escrever sobre cineclubes.

Segundo a enciclopédia Britânica, cineclube é um “grupo formado para estudar a arte do cinema com discussões” que ocorrem depois da exibição de filmes “censurados, estrangeiros ou experimentais”. Na vida real, cineclubes são pequenas salas de cinema que quase ninguém sabe onde ficam, mesmo sendo mencionadas nos guias culturais ao lado das salas dos shoppings Iguatemi, Floripa e Itaguaçu.

Os editores da Naipe chegam ao Badesc. O estudante de Cinema João Ferraz está saindo da sala. Não gostou dos curtas espanhóis? “Entrei no lugar errado. Minha professora disse para virmos num cineclube do centro, mas não é esse.”

A sala do Badesc está com 21 dos 48 lugares ocupados. Na tela, um caminhoneiro dá uma longa carona a uma mulher. Um espectador hipersensível gargalha no meio das frases. O diálogo é bom mas o filme acaba subitamente. O hipersensível diz a um amigo que gostou do final. O amigo protesta que não houve final. Os 21 espectadores aplaudem.

Muito lógico

Na Fundação Catarinense de Cultura a sala está cheia, com cerca de 50 pessoas – João inclusive, agora no cineclube certo. As cadeiras acabaram e 15 dos espectadores estão em pé. O clima é de comemoração por causa do resultado de um prêmio da Funcine, o Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis. Os filmes da noite são os premiados.



Estudantes aprovam bolinhas de queijo pós-sessãoO curta mais esperado é “E.T., o Emissário da Terra”. Um emissário chega “a um mundo muito lógico, onde as pessoas se comportam de forma maquínica [sic], e acaba no hospital. Lá, ele passa a pregar o Evangelho”.

Essa é a sinopse na internet, e também a que fez a diretora de arte do filme para os editores da Naipe depois da exibição. Sem consultá-las, talvez disséssemos “emissário com sotaque gaúcho vai parar em lugar futurista esquisito e faz coisas inexplicáveis”.

Quando o filme termina, a Fundação brinda a todos com vinho, refrigerante, espetinhos de frango, mini-pizzas calabresa, bolinhas de queijo, quibes, pasteis de carne, salgadinhos de camarão. A Naipe logo garante os seus.

Algum dos filmes estava melhor que as bolinhas de queijo?

“Que o espetinho de frango não”, garante Bruno Andrade, estudante de Cinema e amigo de João.

Vocês frequentam cineclubes?

“O último filme do Scorsese é anódino”, diz Bruno. “Anódino”, repete. “A Coca-cola tá numa jarra, vai perder o gás”, lamenta Thiago Ramos, outro aluno de Cinema. João sorri.

As sessões só lotam com comédias, explica um dos organizadores do Cinecélula, cineclube que promove um filme todas quartas às 21h no bairro João Paulo. Faltam 20 minutos para Avaí x Figueirense e a Naipe chegou com o filme começado para conferir o público de “Blow Up”, o clássico de Antonioni. Há 13 cadeiras. Seis estão ocupadas.

No dia seguinte, o cineclube visitado é o Victor Meirelles, no centro, que exibe o excelente documentário “Espírito de porco”, de 50 minutos. Após a sessão, um dos diretores conversa com a plateia. Como nos outros casos, tudo gratuito. Ótima noite, melhor que qualquer bolinha de queijo ou espetinho de frango. E sem emissário nenhum.

* Esta matéria foi originalmente publicada na revista Naipe 1 (junho/2010). Para ler a revista on-line ou baixá-la clique aqui.

Publicado em http://revistanaipe.com/revista/1-revista/44-cinefilos-e-salgadinhos

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